quinta-feira, 14 de junho de 2007

Crônicas de um Mendigo Lunar com um microponto sob a língua, deitado sobre um Jornal dos anos 70

Estava deitado em minha cama na rua, de ponta-cabeça, lendo os poemas de Pessoa quando admirável e surpreendentemente avistei uma borboleta fêmea azul pousar levemente sobre o meu braço, (não me perguntem como sei que era fêmea, apenas sei) ela deu um sorriso engraçado, dançou uma valsa e morreu; não chorei, nessas horas deve-se manter a calma. Apenas senti uma certa tristeza, não é sempre que se conhece uma borboleta dançarina e quando a gente conhece ela morre assim, de repente, sem dizer adeus. A noite mal havia começado e eu tentava saber o que estava por vir, abri um livro qualquer, algo sobre o Egito e suas pirâmides, pensei sobre Adão, se ele tinha umbigo ou não, discuti um pouco comigo mesmo, fiquei irritado e me mandei calar a boca. Olhei para o lado e vi uma luz intensa, do meio da fumaça vi surgir um ser, era uma mistura de Alien, E.T, Pequena Sereia e tudo de pior já produzido pelo cinema ianque; ele girou o pescoço tal qual a menina do Exorcista e gritou como o Tarzã. Nessa hora eu imaginei que seria abduzido ou exterminado com sua arma de ultra-híper-super-eletro-laser, mas o ser olhou pra mim e deu uma risada esquisita como Lucille Ball, eu obviamente fiquei sem reação e ofereci uma Coca-Cola gelada, ele (ou ela, desta vez não tenho certeza), andando como John Wayne, disse que só tomava Fanta Uva, pediu um cigarro e disse que tinha que ser Marlboro, cruzou as pernas igual a Sharon Stone, deu uma tragada, soprou a fumaça como Marlon Brando e sorriu como Audrey Hepburn. Começou a cantar “Age of Aquarius” e a dançar a coreografia de Singing in the Rain, daí peguei meu revólver, dei cinco tiros e soprei a fumaça que saía do cano, chutei o cadáver pra ver se estava morto, mas ele levantou feito Jason, virou as costas e saiu falando sozinho como Woody Allen. Eu olhei ainda a Lua iluminar a poça d´água e bebi mais um gole de pinga, pisquei os olhos e vi novamente a borboleta, ela me deu um sorriso e acenou, eu acenei também e deitei novamente, li o Poema Tabacaria e guardei o livro, vi que a noite já estava acabando e fechei os olhos com um sorriso louco na face.

Luciano Pires

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