segunda-feira, 18 de junho de 2007

Poesia antiga

Brota em mim um suicídio em formação
Sonhos e devaneios de prédios e lagos
afogamentos e envenenamentos
Brota em mim um som de trovão e tiros
Raios e gritos,
explosões e enforcamentos
Rodas em movimento sobre o sangue seco no asfalto
Brota em mim um estranho ouvir
como se as vozes saíssem de mim e para mim voltassem.
Como se os sons partissem de mim para meu encontro
Brota em mim uma dança sinistra de movimentos lentos
À meia-luz essa dança se projeta em sombras pela parede
À medida que progride, lança pequenas luzes como se fossem raios
Essa dança inibe meus instintos e obstrui a fúria interna do querer fugir
Fazendo assim meus sonhos se desintegrarem e voltarem ao útero do inconsciente que os gerou
Brota em mim uma visão de olhos fechados
Numa imaginação quase real, sobre a mesa
Uma flor sem vida e seca, de qualquer cor, ùmida em todo toque, no contato de cada dedo.
Uma flor em preto e branco, molhada de suor
Brota em mim uma percepção quase espontânea
Um sentimento, um odor, um som,um gosto, uma visão
Uma realidade completa em cada centímetro de dimensão
Ruas surgem desviando e entrando em minha alma
Estou parado, elas é que partem em minha direção, me passando a sensação de movimento
Brota em mim um sonho em decomposição
Nuvens e relógios, em lados opostos
Um encarando o outro, sem minha presença.

Poesia escrita em 01-05-1997

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Entrevista

Fora do circuito convencional dos cinemas, os curtas-metragens independentes formam uma importante parcela do universo cinematográfico. Através deles se despontam novos talentos, novas idéias e produções dos mais variados níveis. Em uma metrópole como São Paulo não é diferente, profissionais e novatos na área se aventuram em trabalhos cada vez mais chocantes e criativos. Esse é o caso de “Fetish”, o primeiro curta-metragem de Luciano Pires. Previsto para ser lançado em Setembro, promete agradar em cheio aos aficcionados do gênero de terror.

Cinema em Cena: Este é o seu primeiro curta-metragem. Fale um pouco a respeito desse trabalho.
Luciano Pires: É um thriller com muita reverência ao passado a memória televisiva e cinematográfica sob influência suprema de Argento. Trata-se de duas amigas que se encontram num bar e decidem brincar com fetiches e não dá muito certo. Cogitei a idéia do curta através de uma conversa por MSN e pensei em escrever um conto. Escrevi, e como não tenho saco pra formatar um roteiro, enviei pra um amigo roteirizar, tudo sob minha supervisão, é claro. Feito o roteiro, procurei reunir um pessoal e lembrei de duas amigas que tinham vindo num projeto de cineclube que eu estava organizando e o Adílson, um amigo que me ajudou num primeiro projeto há algum tempo. Mas precisaríamos de duas atrizes e um ator e decidi chamar todos amadores. Na verdade, chamei quem tava na lista de amigos do orkut, e a equipe foi montada quase toda pela internet. Faltava locação, precisávamos de um bar e decidimos fazer num brechó que fosse bar também decidimos pelo “Túnel do Tempo” na vila mariana. O banheiro usado foi o da faculdade Anhembi-Morumbi, onde o Diogo estuda.

CeC: O nome é muito interessante e desperta uma curiosidade. Por que “Fetish”?
Pires: Comecei com alguns nomes que descartei por ter spoilers. Fiquei com um último que também entregava o que iria acontecer, então preferi a amplidão e todos os sentidos que essa palavra carrega e fiz um trocadilho com “she” (pronome feminino em inglês).

CeC: Como será a distribuição desse trabalho?
Pires: A princípio não pensei em distribuição. Vamos divulgar, fazer uma festa de lançamento e pensar nisso com calma. Gostaria que fosse distribuído, mas antes temos que editar o filme com calma e traçar um plano, talvez na Galeria do Rock seja uma boa alternativa.

CeC: Quais foram as maiores dificuldades para produzir o curta?
Pires: Negociar locações e tempo pra produzir e gravar. Dinheiro sempre é problema, mas soubemos resolver e gastamos relativamente pouco.

CeC: Quantas pessoas estão envolvidas na produção?
Pires: 12 pessoas diretamente envolvidas, mas tem trilha sonora, design e figurantes.

CeC: Geralmente, aqueles que produzem curtas de terror acabam caindo no estilo "Trash", você consideraria Fetish um curta"trash"?
Pires: Não, definitivamente, quero fugir disso. Gosto dos trabalhos do Petter Baiestorf e tal, mas não é o quis fazer, nem ser cerebral como os europeus. Algo entre as duas coisas.

CeC: Você acha que os curtas são mais bem recebidos pelo público do que anos atrás?
Pires: Acho que não. Hoje em dia é possível assistir curtas pela internet, mas no cinema mesmo está igual como sempre foi.

CeC: Quais serão seus próximos projetos?
Pires: Vou criar um roteiro em breve e participar como ator em algumas coisas, mas nada definido. O roteiro é sobre um grupo de colegas "cinéfilos", que acreditam ter descoberto um segredo em um filme obscuro e começam a sofrer as conseqüências disso (risos), não vou adiantar muita coisa.

Para saber mais novidades sobre o curta-metragem, participe da comunidade “Fetish” no Orkut.
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=28780013

A simpatia de São Paulo

_Oi
_Não gosto de conversar.
_Mas eu só te cumprimentei...
_Cumprimenta outro.

Madrugada

Me beija, disse o mendigo
pega as moedas, disse a gostosa
não quero dinheiro, quero um beijo
(o cheiro de sua boca lembrava alguém que tinha acabado de lamber o cu de uma vaca).
Não.
Me beija.
Vou gritar.
Grita.
A mão suja se esticou.
Pegou as moedas.
Passou a mão na bunda dela.
Sujo.
Puta.
O silêncio da madrugada gritou no peito
uma moeda caiu
No bueiro
Ele chorou baixinho
No dia seguinte, morreu de frio
Debaixo de um toldo
Na vitrine, um anúncio do dia dos namorados.

Vingança

A faca cravada no peito
Seminú, se arrastava pelo asfalto
Lembrei da cena do Juventude transviada
mas era ali na minha frente
e não tinha a jaqueta vermelha do James Dean.
Eu tava no ponto de ônibus
Vestido amarelo.
Tua mulher te traiu?
perguntei pro morimbundo
Arrrrrgh, disse o filho da puta
Cuspiu sangue.
Tinha ouvido a história,da boca da velha lá da rua
A mulher deu a facada
de ódio
de medo
de gratidão
Morreu ali,sozinho,desconsolado
não ajudei não
que morra,
quem manda ter pau pequeno.

Morrer

Morri dois dias atrás
mas não é igual a nenhum filme

...um branco infinito.

Sonhos

Metade das pessoas que ali estavam eu nunca tinha visto
Quem é você?
Tava passando e entrei.
No meu sonho?
É, por que?
Nada, que falta de privacidade...

Poema curto

Derrubei um alfinete
Criou-se um terremoto.

Medo de Palhaço

Aquele filme dos palhaços...
It?
Não, aqueles do outro planeta...
Killer Klows from outer space?
Sei lá, não sei o nome em inglês...
Palhaços Assassinos...
é, esse mesmo.
Quequitem?
Tinha um puta medo quando era criança.
Medo de palhaço?
é, tem um monte de gente que tem.
E como é que chama?
O que?
Medo de palhaço,palhaçofobia?
sei lá
Eu gosto é do Ronald McDonalds, aquele sim.

Grite mais um pouco, depois morra

Choveu fumaça no mar do meu pensamento.
Enevoou, escondeu,transformou tudo em ardentes solidões.
E nos meus sonhos, devaneios, algo estava morto.
O eco ainda é forte e inaudível.
O pó que de mim restou.
Dançante e musical
Meus braços ainda doem um pouco
Meus ouvidos estão afinados.
Grite mais um pouco e depois morra.
Aspire o silêncio e suma de repente.
Tudo me faz lembrar que Deus está morto.
Teu suspiro gira como uma flor do Sol.
Dança, faz-se crer com palavras deitadas em vis sorrisos.
Esse odor quase musculoso me nocauteia.
Meus ouvidos dormem abertos
Ouvem tudo em frações de segundo.
O eco ainda dá giros e giros em torno de minha alma
Claro, transparente,espacial
O eco, o eco, o eco, o eco…
Grite mais um pouco e depois morra.
Tão inaudível, milhões de decibéis desperdiçados.
Bailarino sem pernas e cego
Mutilado e sorridente
Tudo me faz violento, cruel.

Contículos

Você é um cabaço
bradou um moleque naquela fila fétida de posto de saúde.
Nem conhecia o fedelho
Dei-lhe um tapa na fuça.
tua mãe é que é.
Não tenho mãe, tenho vó...
Então pode ser,respondi
Fiquei com dó, mas só um pouco
O moleque era um filho da puta, mesmo sem mãe.
Tava lá sentado, esperando a porra da inalação.
O moleque não parava, pulava, corria, xingava.
Fui beber água, espirrou na minha cara, aquele bebedouro fedido.
_Cuméqiéteunome,muleque?
Zezinho.
De que?
Sei lá.
Então tá
Fui sentar
Na tv sem volume, Ana Maria Braga fazendo uma porra de uma receita.

Crônicas de um Mendigo Lunar com um microponto sob a língua, deitado sobre um Jornal dos anos 70

Estava deitado em minha cama na rua, de ponta-cabeça, lendo os poemas de Pessoa quando admirável e surpreendentemente avistei uma borboleta fêmea azul pousar levemente sobre o meu braço, (não me perguntem como sei que era fêmea, apenas sei) ela deu um sorriso engraçado, dançou uma valsa e morreu; não chorei, nessas horas deve-se manter a calma. Apenas senti uma certa tristeza, não é sempre que se conhece uma borboleta dançarina e quando a gente conhece ela morre assim, de repente, sem dizer adeus. A noite mal havia começado e eu tentava saber o que estava por vir, abri um livro qualquer, algo sobre o Egito e suas pirâmides, pensei sobre Adão, se ele tinha umbigo ou não, discuti um pouco comigo mesmo, fiquei irritado e me mandei calar a boca. Olhei para o lado e vi uma luz intensa, do meio da fumaça vi surgir um ser, era uma mistura de Alien, E.T, Pequena Sereia e tudo de pior já produzido pelo cinema ianque; ele girou o pescoço tal qual a menina do Exorcista e gritou como o Tarzã. Nessa hora eu imaginei que seria abduzido ou exterminado com sua arma de ultra-híper-super-eletro-laser, mas o ser olhou pra mim e deu uma risada esquisita como Lucille Ball, eu obviamente fiquei sem reação e ofereci uma Coca-Cola gelada, ele (ou ela, desta vez não tenho certeza), andando como John Wayne, disse que só tomava Fanta Uva, pediu um cigarro e disse que tinha que ser Marlboro, cruzou as pernas igual a Sharon Stone, deu uma tragada, soprou a fumaça como Marlon Brando e sorriu como Audrey Hepburn. Começou a cantar “Age of Aquarius” e a dançar a coreografia de Singing in the Rain, daí peguei meu revólver, dei cinco tiros e soprei a fumaça que saía do cano, chutei o cadáver pra ver se estava morto, mas ele levantou feito Jason, virou as costas e saiu falando sozinho como Woody Allen. Eu olhei ainda a Lua iluminar a poça d´água e bebi mais um gole de pinga, pisquei os olhos e vi novamente a borboleta, ela me deu um sorriso e acenou, eu acenei também e deitei novamente, li o Poema Tabacaria e guardei o livro, vi que a noite já estava acabando e fechei os olhos com um sorriso louco na face.

Luciano Pires

Their Satanic Magic Request

Solto uma gargalhada tensa, olho para o alto do quarto e vejo a luz que emana do
espelho instalado no teto. O abajur que reflete o ambiente inteiro de espelhos é
de cristal, no formato de uma pirâmide. Há duas cadeiras de madeira e um sofá
velho se equilibrando sob uma manta xadrez, a estante aguarda os livros que
virão, por enquanto aguarda, ansiosa.
Na mesa há dois lápis e uma folha, um desenho abstrato está grudado na
superfície com uma fita, para não se movimentar enquanto se desenha, várias
folhas espalhadas pelo chão, brancas, breve espaço entre idéia e obra. No ar, um
intenso odor de incenso de mirra.
Na vitrola ouve-se o disco dos Stones, “In another land”, um som etéreo desvia
nuances de sonhos entre os vãos que sobram sem serem invadidos por papéis.
Eu rio ainda, nada nesta sala pode me atingir, rodopio feito um louco sem
esbarrar em nada, com os olhos fechados e um microponto debaixo da língua, meu
suor e minhas lágrimas que antes rolavam pela minha face, agora borram a máscara que
tenho no rosto tentando me esconder da multidão que enfrento, ora em sonhos, ora
em vida.
O fulgor das investidas de loucura que me invade faz do medo meu aliado. Agora
rio, descontroladamente.
A alegria que eu pensava encontrar dessa maneira se desfazia em segundos.Os
pássaros desciam lentamente e me tocavam com seus bicos sedentos, eu os
espantava. A música fluía solta, dançava com os desenhos e com todos os papéis
que sufocavam o chão da sala. O odor exalava ainda mais temor e eu me sentia fraco
e humano.
Abri a porta e descompassadamente me arrastei até a rua, peguei meu discman e
meu cd dos Stones,”On with the show’ tocava agora,andava desesperadamente como
se a rua é que deslizasse sob meus pés. Afoito, olhava para o céu, era uma
daquelas noites estranhas, um vento gélido, uma garoa fininha, a noite mais
escura do que de costume, talvez fosse a ausência da Lua. Era uma rua estreita,
de estreitos raios de luz listrando o solo sujo, a imundície dos mendigos e suas
barbas cheirando a álcool, levava nojo e também uma vontade de me juntar a eles.
Parecia que suas vidas eram livres, e pra ser livre era preciso não se prender a
nada, não possuir nada, pobreza, podridão, liberdade.Puxei um cigarro da
cartela, levei até a boca e suguei forte, traguei como um suspiro e soltei a
fumaça numa forte expiração, como se tivesse golpeando um oponente, como nos
filmes de Bruce Lee . Retirei de meu casaco um cantil de uísque e tomei de um
gole, o efeito do ácido bateu subitamente e o frescor da brisa me deu vontade de
gritar, de sorrir, pular e tudo que fiz foi me deitar e vomitar sobre a lata de
lixo onde minutos antes um mendigo encontrava sua refeição. A chuva persistia e
a cada nota um suspiro eloqüente se desenhava na garganta, mais um gole de
uísque, as ruas agora são largas, tão largas quanto o caminho dos fracassados.
Eu tinha algum dinheiro, entrei em um bar, me sentei ao fundo e pedi um copo de
vodka com gelo, olhei ao redor e as pessoas pareciam andar e falar no compasso
da música, “Citadel”, pareciam agir sem vontade própria, zumbis,chorando,
gritando, querendo fugir mas sem forças pra isso.
Um segundo, um gole de vodka, sai do bar,uma caminhada e eu já parecia um
estranho, um alienígena, como sempre fui e como sempre me senti. “In another
land”.As estrelas pareciam se soltar do céu e dançar, pulavam, tremiam,
iluminavam com suas luzes pálidas,as sombras das árvores eram sonhos desfeitos,
sonhos mentirosos, tomei um novo gole, acendi outro cigarro. Caminhando ainda,
trôpego mas consciente, as imagens pareciam brincar comigo, postes altivos e
ameaçadores, sombras temíveis que se erguiam e me olhavam , a rua, a
calçada, as poucas árvores espalhadas no caminho aparentemente infinito eram
como fantasmas errantes, pousados tristemente sob uma realidade confusa,cada
passo era ao mesmo tempo uma despedida e uma saudação, camuflados, sutilmente em
meio as notas loucas .”She’s a rainbow.
Caminhei de volta pra casa, entrei e fechei a porta, fui andando lentamente de
volta ao meu quarto, a vitrola já havia parado, coloquei novamente o disco
“Their Satanic Magic Request”, mais um incenso de mirra, mais um gole de uísque,
ainda sentia a vibrante sensação do ácido lisérgico correndo entre as idéias
enevoadas do meu cérebro.
Deixei a porta do quarto aberto, pois queria fugir quando quisesse, sem precisar
abrir portas,(embora não fugisse nunca).
Sentei na cadeira de madeira, ria como se fosse morrer se parasse, meus olhos nem
sequer piscavam, o riso aumentava de ritmo e de volume, vi um homem em minha
frente, mas notei que não era bem um homem, era uma divindade, e não notava que era
isso que me fazia rir, eu o olhei pela segunda vez, já o tinha visto antes,da
primeira vez quase morri.
Esse Deus que me encarava era um vulto etéreo, dizia frases incompreensíveis e
isoo me apavorava, tentava compreender as palavras, os ruídos e os gritos que o
vulto exprimia, mas meu estado apenas permitia que eu risse. Peguei a pirâmide
de cristal e quebrei violentamente no chão, ainda rindo, quebrei os móveis, tudo
que estava no quarto e ri ainda mais forte, arfando e tremendo.Deitei-me no
chão, sobre os destroços e vi o teto do céu através do teto do quarto, vi
estrelas,Luas e noites, todas dançando e cantando, tocava “Gomper”, (o
finalzinho),o começo de “2000 Light years from home” me assustou, as estrelas
riam do tempo e das mentiras.As luzes fulminavam meus cabelos os fazendo brilhar
como vagalumes, isso fazia de mim um arco-íris vivo, pois meu cabelo reluzia
com as cores do arco-íris.
A cadeira era o único móvel que ficou intacto na sala, e isto porque milhões de
borboletas estavam lá sentadas, me olhando como se eu fosse um ser estranho e
esquisito. Olhei pela janela e vi que as flores se mutilavam no jardim, se
regavam e se colhiam, enquanto isso eu tentava tapar minha boca para parar as
risadas, mas nunca conseguiria parar.
Os livros aterrisavam na estante, eram negros e com muitas páginas, não haverá
leitores, mas eles se contentarão em ser livros negros e com muitas páginas e
informações. Um pássaro veio voando com uma coroa brilhante em suas garras. Eu
ria ainda, sabia que não ia parar e isso me fazia rir mais ainda, ergui minhas
mãos aos céus entoando preces insanas e revoltadas, traindo meu próprio
compromisso de me calar, calar minha alma. Fazia preces em pensamento, porque
minha boca apenas ria, meu corpo apenas se movimentava no ritmo do riso
desenfreado, meus músculos vibravam, como se fossem cavalgaduras de uma vontade
desconhecida.Novamente as borboletas voavam descontroladas, na chuva que agora
caía. Eu paro de rir, não sei como, mas paro.esqueço meu riso e me lembro das
lágrimas, esqueço de tudo que passei e vivi. As nuvens esperam os suores frios
do ar,querem também cair com a chuva fria, apenas para tocar em meu corpo e
sentir minha saudade. Todos os sonhos foram destruídos, resta apenas sua cadeira
e sua sala coberta de cacos de espelhos. Já não sei quem sou, se sou algo que se
pode tocar, ou uma daquelas milhares de imagens que jorram de cada minúsculo
pedaço de espelho que está caído no chão.Não me assusto mais com os
trovões,somente vejo minhas mãos, marcadas e meus olhos refletidos, meu
rosto que nem mais meu é, mas que já me acostumei como sendo.
Queria voltar para meus sonhos, mas é tarde demais, as ruas foram fechadas e
destruídas, as frestas já não são grandes o suficiente para suportarem gigantes
com saudade.
Muito tempo se passou desde então, já me senti muitas vezes assim, já voltei aos
meus sonhos, sempre volto, já morri muitas vezes e muitas vezes renasci.
O dia agora se apresenta diferente, o Sol brilha como se pudesse fazer mudar
toda a história que já viveu, a manhã é linda , mas tudo é igual e triste, os
signos teimarão em representar sinais que terei que decifrar, mesmo sendo
sufocado pelas risadas, que voltam sempre, cada vez mais atormentadoras.
Quero mesmo é saber se me encontrarei novamente ao alcance desses estranhos
seres e acontecimentos, cada vez que ouvir o mesmo disco dos Stones, saberei
somente quando puder ver através dos espelhos.
Meus pés me farão deitar de cabeça pra baixo na cama improvisada de certezas,
mas ainda assim me levantarei e direi que a cadeira é mais confortável.
Estou sorrindo, sentado de mãos erguidas, fazendo movimentos de bater palma,
expressão de felicidade, embora pareça triste.
Chega de risos e mentiras, já me cansei de minha máscara e de meus ruídos, já me
cansei, meu corpo está caindo, o abismo abre os braços pra me receber,sem meu
riso franético não sou nada, sem minha máscara e minha tristeza posso ser
enterrado, sem lágrimas , sem remorso, tudo segue seu rumo. “In another land’.

Luciano Pires

Poesias


Precipício

O sangue jorra incessante pelos olhos,
Um brilho vago de canções eletrocutadas faz da noite um contraponto à gritaria surda dos raios de luar.
Morbidez nos lábios sem cor,
Vermes nas narinas em fogo.
Cadavérico e flácido,
Não tenho mãos pra me agarrar.
Estático, pálido,
Tudo se fragmenta em rancor por sobre mim.
Tudo agoura sob o teto negro.
Mil imagens se entrelaçam na frase que morre.
Fictício e real,
Vivo e putrefato,
Ainda raciocino em meio à grama alta da confusão que me aflige.
O precipício se encontra ali, profunda e indubitavelmente mortal.

Dor contínua

Uma dor contínua e latejante crava-se em minha carne.
O espelho reflete as lágrimas que perdi no tempo.
Dor contínua.
Mil pirâmides brotando do asfalto.
Vermelhas, quentes,flamejantes.
De vez em quando a morte sorri,
Um esboço malfeito de um sorriso rude.
Podre e irônico.
Quase perco os pulsos e nada se ouve
Quase perco os pulsos
Quase.
Mesmo agora sinto frio
Como se fosse um inferno gelado criado por mim
Almas perdidas no âmago sem luz do lado esquerdo da minha alma.
Um medo de carne e osso.
Dor contínua.

Lua apagada

Armei-me para a guerra.
Suavizei os temores,senti menos medo
Nada disso me fez sentir me forte.
O céu caiu em pedaços sobre minha cabeça.
Os diamantes me enterraram sob o peso de sua consciência,
Os diamantes frios.
Mal dormi essa noite
Pesadelos.
Chorei sangue,chorei pedras,chorei signos.
Nesse dia a Lua iluminou mais devagar
Quase apagada.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Dor

Sinto uma dor extrema
Quase um edema
cerebral.
Uma dor constante,maligna,quase digna
de suicídio.
Quando ouço aquela voz por detrás da porta,
a voz de uma morta,
antes do dia nascer,
sinto meu cérebro arder na ferida doce de não crer em nada e nem sequer existir.
A sombra louca de um fantasma surge na palma da minha mão
Num preto e branco sujo.
Eu me escondo e fujo sem olhar pra trás,vendo a eternidade babar de desejo.
Sou cúmplice da desgraça que escondo,embora nutra esperanças inconfessáveis.
Sinto um último suspiro, no recôndito do peito e já não sou pele, nem sangue,
uma carne vendida e prestes a deixar uma marca no chão.

Poesias Obscuras inspiradas em Argento


A DANÇA DOS SERES SOLITÁRIOS
Violentos devaneios me atormentam.
Solitário,nego que morri.
Você dança suavemente por entre as árvores, sem sentir o desespero.
Te olho de longe, você dispara seus sentidos, o som atravessa o espaço e dorme no fundo da alma,transparente.
Mudo, me vi correndo sem destino.
Asas negras movimentando o ar, nuvens cinzentas demolindo o silêncio.
Mais um passo mal ensaiado, mais uma queda.
Fiz bem em dormir de olhos abertos e ouvidos atentos, milagres não acontecem.

A ÙLTIMA NOTA DO PIANO
Ele entra meio torto, desabando sobre a porta, entortando a maçaneta, sonhando com a forca e o pescoço sobre a mesa.
Diz uma palavra sem sentido e espera que entendam, sussurra fétidos poemas de amor e derrama o último gole de vinho.
Destrói o último gesto com urros silenciosos e preces.
Exorciza a calma que expressa em seus olhos pútridos.
Ele mexe os dedos, revira os olhos a procura do último suspiro de loucura. Inveja as cores e a luz fria do teto, se pendura na corda invisível e morre lentamente.

BIOGRAFIA DE ALGUÉM QUE NÃO NASCEU
Vejo agora o sangue que escorre e mancha o asfalto.
Quis me esconder entre as sombras, preso ao pé da cama.
Espero não ter te magoado.
Te dei um caminho, você escolheu outro.
Vou hipnotizar meu reflexo no espelho.
Chuva grossa nas pálpebras fechadas.
Me diga que seus olhos estão abertos. Odeio pensar que quando te toco você não percebe.
Sua vida não pertence a você nem a mim, nem a ninguém.
O medo me tranquiliza, o brilho da faca.
Te acaricio devagar, o vermelho me molha, aveludado e morno.
Um sussurro desfaz o branco silêncio de mil vozes surdas. Me arrasto em direção ao nada.

DESGOSTO
Derramei meu sangue pela escada.
Duas frases curtas e um ódio eterno.
Beijei aquela frase,daquele livro empoeirado e senti o gosto imundo das lágrimas.
Extremamente doce é a voz poderosa do destino.
Prostei-me perante um ridículo átomo de memória.
Sumi, desvendei o segredo e não aprendi nada com ele.
Você apertou minha mão delicadamente,não tentou ser sutil nem agradável,nem tentou me dizer nada da tua vida.
Derramei minhas lágrimas pelo carpete e o sangue pálido gelou minhas veias,dormi silenciosamente.
Só quando disse adeus você me entendeu e quis consertar o que quebrou,mas era tarde e tudo foi morto por uma mão pesada e febril.
Você deitou por sobre o tapete,um fio vermelho escorrendo pelos lábios,a mão no coração sangrando no peito aberto pelo punhal.

LUA CEGA
Embriagado pelo véu transparente e sinistro, o encantamento se dilui no espaço.
A esperança rapidamente escapa por entre as nuvens.
Naturalmente angustiado, prevejo minha própria morte, sereno, tranquilo, sem antes me despedir.
Um funeral sem nome,dois amigos e uma vela.

NÃO QUERO SER DE VANGUARDA
Não deixe seu túmulo vazio, se deite de vez em quando.
Centenas de páginas em branco pra tentar explicar o nada.
Enquanto o filme roda, meus olhos voam pra longe.
A fotografia em preto e branco de repente se colore.
Tudo escorre violentamente, enxurrada de dores, você está acordado?
Faz uns dois anos que não durmo.
Me enganei mais uma vez quando virei a esquina, aquela luz gritando de novo em meus ouvidos, cinzas se derramando nos corpos nus.
Não diga que não avisei.

NO SILÊNCIO SE ENCONTRA A DÚVIDA
Me despi em dois segundos e fiquei sem memória.
Respondi as peguntas que não me fizeram e quando fiquei sozinho tive minhas próprias.
Sorri por um instante e me dediquei a espreitar por entre as frestas da mente, procurando por uma estupidez qualquer.
Duvidei do silêncio, ouvi o ruído espasmódico da tristeza.
Me vesti em dois segundos e lembrei de tudo.
Decidi guardar certos papéis, escrevi meia dúzia de cartas, conversei com algumas pessoas, pulei o muro do vizinho e o matei a pauladas, sem sangue nem crueldade.
Maravilhosamente.

Poesia Obscena do 5º Milênio


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