quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Felicidade

Brincando com a sanidade
Equilibrando os pratos.
Tocando cada partícula do tempo com precisão cirúrgica.
Sou eu inteiro, falho,cheio de decepções acolhedoras. 
Oscilações, intensidades, desejos, medos, fraquezas, soluções descartáveis e felicidades de aluguel.
Sou meio nada em busca de tudo.
Na natureza morta de um quadro virado de costas, abandonado em um sotão distante, ,valioso e esquecido.
Em meio a tantas quase-mortes, em meio aos tigres sorrateiros...sou cria do paraíso, enlameado dos pés a cabeça.
Nem sei ao certo onde moro,quem sou ou o que represento.
Mas há amor em mim, há a suave calma de pertencer a si mesmo.
E por volta da meia noite o relógio avisará novamente...
E morro outra vez.e ressuscito.
E estou dentro de ti, adormecido e substancial.
E sigo de mãos dadas...com poucas certezas...
Conciso e mudo.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Teu

Sê o todo,tal qual o universo e seus meandros
E em cada fresta,um fio de luz,iluminando segredos
E em cada dúvida,a suave tranquilidade de navegar sublime por sobre as nuvens.
Sê assim,lago calmo,alma translúcida,abraço terno,beijo cálido,ilha segura e onírica.
Assim,em cada passo da longa caminhada, sê pássaro altivo, voando absoluto,imperioso,olhos atentos e asas abertas.
Em teu abraço, vivo
Em teus lábios dormem os meus
E em teu colo me construo
Me desfaço
Me reinvento
E, sendo ainda mais eu que antes,desfilo,impoluto,sem soçobros,coberto de brisa e indissoluto.
E ao te lembrar, no espelho,abraçados,indeléveis,suspiro abertamente,sem elocubrações,apenas a marca eterna de tudo que foi inferido e realizado.
E teu sorriso, desarmado e belo,inunda tudo de felicidade.
Como um límpido desaguar, rio caudaloso de infinitas embarcações,somos vento e vela e cais e porto e nave legítima descobrindo lugares inabitados.
Me dê a mão,sussurre ao meu ouvido,olhe para o horizonte,sinta toda a eternidade que flutua esparsa por entre as cores vívidas de nossas almas.
Enquanto isso,no alto da montanha,um senhor sorri e levanta as mãos e prescreve algumas notas,bate palmas e enlouquece
Aqui embaixo teu corpo está junto ao meu,sangue translúcido e quente correndo nas veias,a respiração,o bater ritmado do coração,a pele macia,o frêmito repentino de um trovão interno
que aturde tudo ao redor.
Te olho e te beijo,entregue e infinito.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Jorge,o Gnomo



Ivan acordou sonolento,coçou os olhos com as mãos,bocejou lentamente, numa pantomina engraçada.
Mal pode acreditar quando avistou um pequeno homem sentado no sofá,devia ter uns dez centímetros,estava vendo Netflix,embasbacado e absorto.
_Ei, quem é você?
_Oi?
_Quem é você?
_ Jorge,o gnomo
Ele coçou os olhos novamente, não acreditando no que via.
_Como assim um gnomo?
_Sim, eu sou um gnomo e sou músico também.
_Vai me dizer que tem uma banda de gnomos?
_Sim,tocamos música imaginária.
(Ele pensou por um instante que conhecia alguns amigos músicos que tocavam música imaginária também)
O gnomo continuou:
_Tocamos muitas músicas imaginárias com nossas guitarras semi-distorcidas,aliás,hoje tem show, obrigado por me deixar assistir Narcos, esse Wagner Moura realmente é muito bom.
O gnomo pulou pela janela rapidamente, deixando um rastro azul de fumaça.
Ele acidentalmente derrubou um pacotinho pequeno, que Ivan cheirou,pegou na mão,observou e
enrolou junto com o cigarro de maconha que sempre fumava pela manhã.
Desde aquele dia Ivan se encontra regularmente com Jorge, sempre tocam violão e assistem Netflix, estão ansiosos pela segunda temporada de Narcos.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

O Voo





Ele espiou através da fechadura e 
quase imperceptivelmente foi picado com cores vivas por 
serpentes ferozes.
Um cérebro ferino,uma dúzia de pensamentos mórbidos
e um sorriso desgastado e pueril.
_ Você crê mesmo que pode flutuar por sobre a cidade e voar com essas asas de brinquedo?
Ele apenas se calou e continuou a caminhar de olhos fechados,sussurrando baixinho.
Sentou na calçada,bebeu um gole de vinho,olhou para o céu e se deitou,adormeceu.
Sonhou com flores,perfumes,sonhou com praias desertas e florestas imensas,sonhou com uma morte pacífica e indolor.
Ele espiou através de sua alma e não enxergou nada,apenas um ruído branco se dissolvendo em metáforas.
Fazia frio,fazia noite,fazia Lua,fazia solidão.
Encharcado de silêncio,ele previu,assim que notou uma mancha no céu,que de fato seu sorriso
embarcara em uma viagem sem volta.
Tentou abafar os pensamentos que borbulhavam feito água fervente.
Tentou sufocar o crescente e embrutecedor ímpeto de saltar para o abismo. 
Assim,quando a avistou,de repente sorriu.
Um lúcido sorriso emprestado.
Vestiu sua alma de coragem.
E rasgou o peito, deixando seu coração saltar arrítmico.
E então ela o tomou nas mãos
E trouxe junto de si.
E o caminhar sozinho não era então tão frígido.
E a solidão em si não era tão díspar.
A madrugada tremia,frágil,quando os dois olhos se fitaram.
E cada um reconheceu seu próprio demônio tatuado na pupila alheia.
E se deram as mãos
E cantaram uma canção que ecoava pelos becos.
E toda a cidade e seus vapores abriram a cortina imaginária.
E dois pássaros antes inertes levantaram vôo.
E uma garoa fina e gelada coroou o amanhecer de suas almas.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Morte casual

Duas horas da tarde, um calor sisudo
Ele nem olha pra trás, cabelo suado,músculos retesados
e a um palmo de ser morto.
Agacha repentinamente e pega a nota de dois reais
que descansava por sobre o asfalto quente.
Quem sabe compraria uma dose de cachaça.
Que sorte.
_Porque o Senhor Jesus voltará e ai daquele que não estiver preparado.
_Senhor, o Metalúrgico passa aqui?
_Amendoim doce e salgado. Água mineral, Skol.
Na fila ele cambaleava,o chinelo escapava do pé.
O cobrador olhou pela janela: Pode subir.
O tiro foi certeiro.
As pessoas se afastaram.
No pneu preto o sangue cinza.
_Confia em Jesus,ele é o caminho, a verdade e a vida.
A Bíblia caída no chão,aberta no Salmo 23.
O Sol ainda castigava tudo.
As pombas ainda comiam restos de cachorro-quente.
Outro trem em direção a Itapevi.
A sirene da polícia flutuava ao longe.
Na tv do boteco passava o Video Show.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Zen





Uma poesia doce
Que fale aos sentidos
De um perfume suave e facilmente explicável.
Uma poesia que seja repouso
E em teu colo se deite,suave
Uma poesia que te diga
O que não preciso dizer
e ressoe infinitamente dentro de cada minúscula parte do teu ser.
Uma lufada de ar fresco
E aquela luz de fim de tarde,com sua música preferida ao fundo.
Um gole de vinho embriagando o sorriso.
E andar de mãos dadas em direção a qualquer lugar.
Uma poesia tranquila e serena.
Transbordando compreensão.
Como uma canção do Paul
Como uma cena de algum filme bobo da sessão da tarde
Como o cheiro do café de manhã
O rádio tocando um velho jazz
Uma poesia que cure
E desvie toda saudade
Derramando-se em plenitude
No vasto campo de nós.



Encontros



Ricardo era seu nome.
Era baixinho, esguio,quase imperceptível.
Gostava de beber Corote no gargalo. De limão.
Curtia bandas cover de Guns and Roses. E dava moshs.
Trabalhava de garçom em uma churrascaria. Era vegetariano nas horas vagas.
Quase sempre esquecia o nome das pessoas.
Quase sempre chegava atrasado no serviço.
Quase sempre dormia depois das 4 da manhã. Quando dormia.
Seu filme preferido era o Clube da Luta.
Chegou a ir nas matinês do Rhapsody. Era clubber.
Um dia ,na rua dele, passou Roberta.
Ela era alta,magra,dominava o ambiente. Era expansiva.
Gostava de vinhos caros e taças de cristal. Ou Champagne.
Curtia Portishead. Tamborilava as batidas no isqueiro Zippo.
Trabalhava de editora de moda em uma grife famosa. Modelava às vezes.
Lembrava até o nome do primeiro poodle que teve aos 4 anos de idade.
Nunca dormia. Comia duas folhas de alface no almoço.
Seu filme preferido era Gilda.
Gostava de frequentar a Vila Olímpia. Dançava a noite toda movida a Ecstasy e Gatorade de Tangerina.
Nunca se encontraram.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Poesia Light

Poesia light
pouco calórica
De amor, anoréxica 
Grelhada,sem sal
Sem glúten,sem alma
Rima saborizada
Sem sangue correndo
Nas veias
Acordezinho em lá maior
com sétima aumentada
De dor desidratada
Seca,um pouquinho de azeite
Recomendado pela nutricionista
Pode trocar a solidão por um sonho mal redigido
E a libido por caminhadas regulares.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Um Segundo

O andar descalço e obsessivo do Destino
Transformando toda poeira divina
em medos e olhares vazios.
Num segundo é o tudo,a árvore frondosa e raios de Sol brotando na
imensidão de planetas e satélites vivos.
E no próximo o silêncio,o andar de pés se arrastando,o escuro sonolento
O encarar reflexivo no espelho manchado e empoeirado da existência.
E o coração acelerado, a boca trêmula...
A espera desesperadora e frágil.
O céu azul tecido com linhas finas e frágeis.
Quase ouço o sangue correr nas veias
Quase sinto a alma saltando entre um abismo e outro sem olhar para baixo.
No entanto tudo é calmo
No entanto tudo é sonho
E fito o horizonte mal desenhado com o cansaço de um espírito
de cem mil anos. Inútil e louco. Mudo.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Palavra

Onde está a palavra,pálida e morta caindo pelos cantos?
Talvez uma trava,esquálida,torta e minguando aos prantos
Mas assim suave como um tempo ausente
Assim como o Sol sussurrando raios sem fim
A palavra entra de sola na imaginação, dois pés no peito
Sem tempo de defesa,sem jeito, sem companhia pra solidão
E você apenas silencia
tal qual animal com sua cria
quando na fome de partir, nem rosna,espera um novo dia.
Eu apenas espero,quase forte, em meio a ruídos e esgares
Que na arca dos sonhos,todos entrem , de pares em pares
E durmam,prontos a assumir qualquer risco quando de prontidão.
Sem crime, sem falso testemunho, sem perdão.
Onde está a palavra?
Talvez sangue escorrendo no chão
Ou permanecendo estática  ou dançando livre em meio a multidão.

Acalmando a calma

Um livro do Chuck Palahniuk 
Flutuando na noite quente,dois olhos
Perguntas silenciadas
Respostas pouco articuladas
E o som óbvio da música obstrui qualquer capacidade mínima de concentração.
Teu caminho sinuoso e solitário
Talvez uma noite eterna de silêncios profundos
E qualquer cerveja derramada na mesa trará insetos sedentos por diversão.
Os olhos abertos
A calma fingida de mil anos atrás
Desvio os meus olhos por dez segundos
E o que sobra são longos dias de quase-morte, um tanto preguiçoso pra espertezas fúteis.
Não grite perto dos meus ouvidos.
Não duvide dos raios de Sol
Apenas ande,ande demoradamente até sumir no horizonte,ou no fim de uma esquina
Sonhos são sempre mais bonitos quando se acorda.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Fast

Quero beber contigo
deitar no escuro
ouvindo Pink Floyd
Quero um sonho líquido
destruir um muro
crescer num segundo e ver o mundo por cima das nuvens.
teu beijo é estranho
como um gole de cerveja depois de ter escovado os dentes
nada é como antes
É ouvir Legião Urbana sem conhecer Joy Division
é ser de outro planeta e conversar com grilos.
quero fazer amor contigo
em outro mundo e em silêncio.
Quero minha alma de volta
antes da porta do supermercado fechar.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Poeira suja das horas



Você tem uma certa razão,quando diz que não alimentei direito meu ego.
E cego, tateio as paredes úmidas da memória,procurando encontrar sentido.
E aterrorizo meus medos,me vingo lentamente,em cada escolha errada,em cada segundo vivido.
Você naturalmente se acha esperta,tem mil argumentos guardados que quase sempre dão certo,não nego.
Mas se esconde atrás da velha árvore sem galhos que há muito já morreu.

Teu rosto permanece em cada canto da sala,talvez desbote e desapareça algum dia
Tua fotografia,em preto e branco, saudade cheirando a mofo,quase longe demais pra se ouvir.
E tudo fica esperando, o universo quieto,uma platéia atenta, quase sem respirar,enquanto assistia
Depois de horas em silêncio, a rígida dança do cérebro tenso,explode o acorde distorcido.
Podia ter esquecido, sim, podia ter esquecido.

E na poeira suja das horas,os olhos enxergam prazer
E suave como o suspiro antes da morte
Abandono tudo,ilumino de sombras o fio inerte de que me prende a você.

E me movo,apenas em pensamento,a procura de um mito ao qual me agarrar e definhar inocentemente.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Pois é



Pois é
Mais uma vez eu não pensei
Só soube agir com impulsividade.
E aí queria estar em outra cidade
Estar bem longe pra poder nunca mais te encontrar.

Não consegui sequer falar
Não consegui sequer abrir a boca
Pra dizer alguma coisa louca
que você provavelmente não iria entender
Mas...
Quando eu te ver eu vou te abraçar
Dizer que eu sei bem o que você passou
Sorrir,assim,me despedir,virar as costas e voltar pro lugar de onde eu vim.
Mais uma vez eu entendi
Que nada disso é importante
Meu sofrimento é irrelevante
E nada,nada,nada,nada,nada vai fazer você voltar.

terça-feira, 21 de julho de 2015

5 horas da manhã

5 horas da manhã

O cheiro do café invade o quarto, o som do rádio baixinho na cozinha.

Hora de ir pra escola e meu avô sempre estava ouvindo Zé Bettio na rádio, e o som da máquina de costura
da minha avó ininterruptamente fazendo acorde com o rádio, eu sorria e ficava feliz, mesmo sonolento e 
com preguiça de ir para escola tão cedo.

Voltava da escola correndo pra poder assistir ao Chaves sentado no sofá, comendo virado de feijão 
com café. Meu avô também assistia comigo, ríamos daquelas mesmas piadas todos os dias e era tão
bom que no dia seguinte acontecia de novo.

Meu avô tinha um bodoque, que pra quem não sabe é tipo um arco de flecha, mas dispara bolinhas 
de argila, que ele fazia e colocava pra secar. Ele deixava eu brincar com o bilboquê enquanto isso. 



Minha avó estava sempre na cozinha essas horas,dava pra ouvir o Oiiiiiii, gente vindo do rádio, o 
que significava que ela estava ouvindo o radialista preferido dela, o Eli Corrêa.



E lá ia eu para a rua jogar bolinha de gude e rodar pião com os meninos, ou então caçar frutas no 
terreno baldio perto de casa, uvinha japonesa, saco de bode ... bons tempos.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Sobre escrever





 Eu gosto sempre de fazer analogias com a música,pois toco violão e canto.
Creio que com a literatura deveria acontecer o mesmo processo da escrita,primeiro se aprende cada parte do violão, depois o nome de cada corda, como construir cada
 acorde, como extrair o som, e só depois , sem pressa (Existem aqueles que querem fazer acordes e criar música antes de dominar o instrumento) vamos aprendendo e praticando,ouvindo música ,muita música (assim como deve-se ler muito), assim a música vai se desnudando, o que era pura apreciação passa a ser apreciação e observação de estrutura, de acordes, a gente começa a perceber como o músico trabalha os timbres, como constrói e explora acordes, como é o processo de criação e só depois torna-se instintivo,os timbres, montagem de acordes,ritmo, melodia, compassos.
Acredito que na literatura também é assim, o uso da palavra certa com o ritmo adequado, o silêncio, as pausas,as metáforas e imagens...o uso de combinações de palavras para gerar uma terceira idéia, tirar a palavra do seu uso comum e pintar de outra cor.
Do mesmo modo que na música pode surgir um gênio que não estudou o instrumento e pode ser criativo o bastante para criar algo belíssimo,na literatura também pode acontecer, são poucos.

Aprender e dominar a estrutura toda e todas as regras para depois quebrá-las e desconstruí-las.
Na música também existe também os extremamente técnicos com ausência total de feeling e de sentimento, dá sono, assim como músicos que não são muito técnicos e que superam com feeling, com sentimento e vivência.
Alguns juntam as duas coisas, os Hendrix, Zappa e Edgar Allan Poe
Mas para nós, meros mortais, nos resta ler muito, estudar muito, praticar, viver, viver e viver mais e observar mais um tanto. Borrar-se de tinta,espalhar universos,testar,brincar,não respeitar tanto as palavras, abrace-as, seja amigo delas,ande lado a lado, beba com elas, se divirta.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Silêncio

O primeiro silêncio
Depois da meia-noite
Eu aguardo.
Não chorei por você
Não me venha agora me pedir
Para saber
Não quero e não vou.
A primeira palavra
É agora
Lá de fora um barulho de sei lá o que
Me assusta
Me enfeitiça
Me lê de trás pra frente
E eu ali,parado
Sendo escaneado por você.
Não faço parte
Não pedi por nada
E na esquina letal do amor maldito.
Sou apenas uma letra mal escrita.

Pessoas que aportaram por aqui: