domingo, 29 de agosto de 2010

Abaixo às convenções

Uma das melhores coisas de se tornar adulto é se livrar de certas coerções sociais que
existiam quando criança,como ser fantasiado de caipira nas festas juninas(com direito a
remendo nos fundilhos da calça,bigodinhos e sobrancelhas feitos de carvão e dentes pintados
para parecer banguela),admitam,não era divertido, e ainda existia sempre a menininha esnobe que
todos os meninos queriam que fosse o par na dança da quadrilha, o que invariavelmente não
acontecia, e ela sempre era a noivinha e sempre o menininho mais esnobe era escolhido para
noivo, enfim, esse preâmbulo todo é pra explicar que agora como adulto, (e isso é uma
condição privilegiada) me dou o direito de não fazer o que não quero, isso muitas vezes é
visto como comportamento egoísta e antisocial,Pois bem, para essas pessoas tenho somente
uma palavra: Foda-se.
É convidado para uma festa e toca funk,todos vão dançar, te chamam, você olha para um lado
e para o outro, fica tentado a dizer que não vai fazer papel de palhaço, mas todos te olham
como se você fosse o ser mais sem graça e chato e egoísta e antisocial do universo, pois
bem , diga não,você agora é adulto,anos de trabalho, independência financeira, desgastes
da vida, relacionamentos malfadados te deram o direito de dizer não,sem peso na
consciência.
Eu também me dou o direito de não gostar de coisas que todos gostam e de gostar de coisas
que são consideradas bregas,quando tinha doze anos eu era roqueiro doidão e ai de mim se admitisse gostar
de Elton John, em detrimento dos Irons Maidens e Metallicas.Hoje em dia,gostar de filmes ruins,e
filmes românticos e não ir em festas pra ficar em casa assistindo Weeds,não cumprimentar
com beijo aquela mulher feia que trabalha comigo, não conversar com visitas chatas,não
conversar com pessoas no ônibus(ainda mais quando estou ouvindo Nerdcast no I-pod)tudo isso me dá um ótima sensação.
Abaixo as convenções sociais, viva a individualidade.Diga não quando quiser e sim todas as
vezes que te der na telha,chupe sorvete no frio,dance na rua sozinho, fale o que tem de
falar para quem quer que seja,não faça o que tu não quiseres, há de ser tudo da lei.

sábado, 14 de agosto de 2010

Sobre Poesias

Minhas poesias são melancólicas porque minha vida é alegre,isso é um contraponto existencialista...
Conheci mil pessoas que escrevem com um otimismo absoluto e são extremamente tristes e desesperançosas. Existem exceções,mas a maioria escreve apenas pra sublimar.
Na verdade considero poucas as boas poesias com traços otimistas,todos os meus ídolos na escrita são melancólicos.Não produzo muito quando estou triste. Eu escrevo o que quiser, independente do que estou sentindo.
Nada mais perfeito que a frase de Pessoa: O poeta é um fingidor. Finge tão completamente. Que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem... isso é genial. Decodificar, se emocionar,isso quem faz é quem lê.
É ilusão achar que você toca alguém com rabiscos de letras ordenadas,
o leitor é que tem dentro de si um repertório, inspiração é extremamente relativo.
Nunca vai se saber o que foi escrito com inspiração e o foi escrito com técnica, isso se confunde e quem lê é que vai decodificar isso.Existe um vocabulário e
nós buscamos ordenar as palavras para que elas digam o que queremos passar
e isso pode acontecer a hora que nós quisermos,inspiração é apenas detalhe
,ninguem sabe exatamente explicar o que é inspiração
Inspiração talvez signifique algo que desperte os sentidos,os sentimentos e repertórios e tudo que você já guarda dentro de si, mas a decodificação disso, a transformação em palavras é feita através da técnica, e por isso não acredito no poeta mítico,poeta captador de sentimentos, antena parabólica de sentidos...não creio no poeta como alguém que sente mais ou melhor que os outros, ele apenas lida melhor com o código, que é a escrita, não há como saber se outras pessoas sentem melhor ou não, apenas talvez não saibam lidar com a construção da língua tão bem , e a isso se dá o nome de técnica...
Isso é lindo,a mitificação do poeta,devo dizer que gosto às vezes de alimentar essa idéia com relação à mim,mas a inspiração é algo que vem depois de você colocor a caneta no papel(ou os dedos no teclado)
Tudo que eu escrevi quando estava apaixonado considero safras ruins,belas declarações,mas poesias ruins,a poesia me atrai e me irrita, às vezes.
Já fiz muitas experimentações quando estava num grupo de poetas aqui da minha cidade.
As pessoas não dizem se gostam ou não da poesia pelo que elas sentem, ou entendem, fiz propositalmente uma poesia ruim,na minha vez de declamar(algo que abomino)fui aplaudido entusiasticamente.
Já assinei poesias de grandes poetas com meu nome e mostrei para algumas pessoas que eu sabia que tinham a arrogância lá no céu
e eles desdenharam,depois disse de quem era e a cara caiu.
Também já fiz o contrário,
escrevi eu mesmo e disse que era do Bandeira e se tornou a poesia mais perfeita do universo.
Há poucas pessoas sérias,pois então,a poesia é algo estranho, tem pessoas que acham que escrevem poesia, porque é algo que parece fácil:
"As flores escapam entre o céu do teu beijo
e a claridade dos teus olhos me trazem a certeza de ser só teu"
Esse tipo de construção pode ser escrita milhares de vezes à cada segundo.
Uma pessoa sem técnica que acha que tem inspiração vai achar que se demora um mês pra escrever isso e no entanto é automático,ela esperará vir inspiração ,sem técnica pode vir algo ruim, mesmo que "inspirado".
Nós achamos estranho que um músico diga que, se você não souber tocar um instrumento ,não dá pra fazer música?
E um pintor que dizer que, se você não conhecer a técnica de pintar, as cores e tudo o mais, não se consegue pintar?
Não achamos estranho.
Mas dizer que é necessário técnica pra escrever resulta em:
_Mas você é elitista, poesia é pra todos e blá blá blá...
Para ter criatividade no que se escreve não é necessário vocabulário rebuscado
e sim experiência em juntar palavras , fazer encontros que ainda não existiram,
de palavras que ainda não trabalharam juntas, mesmo que sejam duas reles e maltrapilhas palavras e não dois empolados e elegantes vocábulos. A poesia é exatamente a junção de duas ou mais palavras pra gerar uma terceira idéia que não tem similar no mundo concreto.
A poesia na qual não se encontra imagens
nem entrelinhas
que não instiga
que não brinca com as palavras
que não transforma sentidos, não é poesia.
Poesia tem que dar nó no cérebro.
Poesia é ver duas palavras aparentemente desconexas que dão um outro sentido que não se consegue explicar nem teorizar racionalmente.
Poesia já é antes de ser escrita.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Livros dublados

_Por que não fazem livros legendados?
_Como assim?
_Sei lá, todos os livros que eu li e que foram escritos em outra língua
são livros dublados...
O garçom coloca displicentemente a garrafa de cerveja na mesa e
foge daquela conversa de louco.
_Pensa comigo, nós vemos filmes legendados porque gostamos das vozes originais
dos atores e lemos a legenda que traduz fielmente o roteiro e os diálogos...
o filme dublado é uma adaptação, precisa caber na boca do ator, que nem fala a língua,
a sincronia é mais importante que o sentido...
_Tá, e onde você quer chegar?
_Os livros que nós lemos são livros dublados.
_Hã?
_Por que não legendam os livros? Poderiam colocar uma frase na língua original e a tradução
embaixo, em outra cor.
_É, algumas coisas poderíamos entender na língua original mesmo ou buscar traduções por conta
própria.
_Vou escrever um livro legendado.
_ Sobre o que?
_Ainda não sei,mas as legendas serão vermelhas.
_Mais uma cerveja?_ o garçom diz
_Traz mais duas,e a conta...legendada.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Poesia


A poesia é experimento
é momento, é hipocrisia
é em determinada hora do dia colocar pra fora
a carcaça escondida de uma inspiração que não veio.
É dizer do céu a nuvem escondida
a palavra criada, a certeza fodida de que nada deu certo
na vida.
É rir da cidade, das ruas e dos rios
É proferir absurdos e tingir de vermelho os lábios frios
A malícia que zomba dos puros,os morcegos ,os muros
os mendigos e suas filosofias (e os poetas inspirados)
A poesia é o medo, a corda enforcada no pescoço lírico.
O absurdo , o nítido
o deserto mascarado dos teus olhos.
A poesia é a beira do abismo
e a cadeira de balanço do tempo...
é o indizível.
O sentinela faminto, devorando sentidos
o sutil bater de asas dos pensamentos sorvidos, a mais elétrica das metáforas
o olhar destituído de glória
a cólera desdentada da humanidade...o mito final...o suicídio
(embora tudo seja cíclico), a verdade silenciosa do espírito...
A poesia é isso,o que não se escreve.

Pessoas que aportaram por aqui: