domingo, 27 de janeiro de 2008

Deus

Praguejei metáforas...
Deus me aconselhou a não fazê-lo
Me neguei a ouví-lo
Da minha boca voaram frases caladas
Bocejei um riso tímido
Voltei quase criança pra dentro do meu cobertor de pétalas
Estava a ouvir a mesma música prepotente de outrora, ouvidos inúteis, instrumentos escondidos.
Protegi meu rosto e dancei descompassado, não quero olhar seu sangue, suas vísceras á mostra, desviei o olhar.
O medo oblíquo de enxergar sentido onde não há nem razão.
E as partes do sonho que eu havia entendido se tornaram amnésia fecunda nos recônditos selvagens de minha mente.
Derramei planos por cima de abismos,mortalmente me entendi.
Derrotado por mim mesmo em semi-círculos distantes e inconectáveis.
Pés descalços enfrentando as brasas vivas encrustradas nas nuvens maculadas do céu
Estranho céu,sob meus pés e acima dos Deuses.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Instantes

Um último sentido racional antes de enlouquecer febrilmente permeado de sentinelas recobertos de frases feitas.
Um pedaço desse bolo cifrado,criptografado?
um embrulho no estômago vazio e milhares de vozes esquizofrênicas gritando no alto-falante da minha mente.
Sem repouso, fraco e gritantemente nauseabundo.
Você me pede um beijo, minha boca treme e se distancia...
olhar em seus olhos é como um mergulho sem volta na mais absurda delícia de inconsciências e jargões psicológicos.
Psicossomático, mas feliz,escondido entre as amarras frágeis dos maledicentes sonhos.

Anjo Cego

Tive um sonho com você
e ao acordar a solidão era tanta que adormeci novamente,
pra acordar só se for ao seu lado.
uma certeza duvidosa de que tudo vai dar certo
um milagre rotineiro, desinteressante
um abotoar de asas gastas e cansadas
um anjo cego e mudo.
me deem suas bençãos, suas alegrias sem nexo
me contento com o timbre apagado da sua voz
a beleza ininterrupta de sonhos mal vividos
e vidas mal sonhadas.
Tive um sonho com você
e ao perceber o medo, corri de volta ao útero frio dos meus pensamentos
e a alma suportou apenas um beijo venenoso do passado,
um afagar maldito de mãos ásperas.
um adormecer sôfrego
um salto infinitamente curto
em direção ao cínico corredor da saudade.
(Luciano Pires)

Memória

Aquele sopro de saudade inconsistente...
um alvorescer óbvio.
E seu rosto desbotou ,numa memória fajuta...
Ouvi pela segunda vez a voz cega do meu vício
e nesse instante me pareceu menos única aquela frase que sussurrei.
Me beije em pensamento.
Me olhe, me toque.
Um espelho de costas, refeletindo o abismo.
te dei a mão,te dei asas.
te dei um arco-íris preto e branco.
te dei milagres.
Aquele breve esvoaçar de imagens...
seus olhos fechados,seu gosto...
e apenas um eco infinitamente sobreposto.
dei de comer a mil monstros
sobrevivi.
E ainda hoje vejo a minúscula linha que equilibra a Lua
linda e pálida, sobre nossas cabeças.
Luciano Pires

Desire

Me atormenta te ver intranquila,rangendo os dentes freneticamente como se estivesse por morrer...te deixei ver entre a porta entreaberta, um risco de sangue no chão,quase negro,deslizando como uma serpente por entre os pés pálidos da estátua no canto da sala...tua garganta ainda tem as marcas suaves dos meus dedos...um odor silencioso de sombras cruas e distorcidas permeia toda a sala...meu sussurro invade teus ouvidos...teus olhos fixos.
_ Foi por você que meus pés caminharam até aqui...
Não obtive resposta...teus cabelos negros tingiam e abraçavam o tapete da sala...
Corri brevemente por entre meus pensamentos...te estendi a mão, ela deslizou por entre meus dedos.
Tua boca exalava fétidos poemas de amor, eu aspirava tudo,ansiosamente.
Teu sexo gélido...tua face sorria mentindo certezas e eu me envolvi sordidamente entre teus braços.
Te possuí calmamente,sutilmente adentrei teu universo perdido,tua alma em desuso.
Me atormenta teu olhar vazio, tua incerteza maldita,tua fragilidade indócil, teu mal-estar mágico.
Seria apenas um beijo fútil,ardendo meus lábios, e neles depositaria todo o asco e toda a delicadeza de uma vida.
Luciano Pires

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