quinta-feira, 12 de março de 2009

Planos

Eu nunca desconfiei dos meus planos
não enquanto eles estavam na minha cabeça
perambulando
Um dia se passa e tudo já se torna menos real
como uma fumaça de cigarro num filme noir
e teu beijo num reflexo do reflexo do espelho.
invertida e inadvertidamente.
Fixei a retina, meio desfocada, entre teu lábio e teu sussurrar senil...
tentei adivinhar as frases, ler pensamentos...
mas meu analfabetismo sensorial desandou quaisquer expectativas...
Qual o teu medo?
_Perdi todos eles quando te encontrei...
Então reencontre-os, teu medo alimenta meu desejo.
Cinco minutos depois eu embarcava para a morte.
Uma morte breve e sagrada...
Um caos solitário e banal.
Luciano Pires

domingo, 8 de março de 2009

Fragmentos

Ela acordou sonolenta e decidiu viver:
Me acende um cigarro?
Fumou desgraçadamente meia dúzia deles.
Lavou a alma na pia da cozinha,olhou no espelho e se viu calma...
Encarou fixamente os seus próprio olhos e sentiu o silêncio.
Chorou como de costume, soluçou e gritou.
Queimou o rosto com a ponta do cigarro e engoliu a dor suavemente...
Estou sedenta, disse em meio aos soluços...
Se ajoelhou e ergueu as mãos para o céu e uma gota de medo molhou seu rosto imóvel.
Sentou-se na cama
Fechou os olhos
Pensou por um breve momento em tudo
e comoveu-se por um instante.
Nada poderia mudar o futuro.
Sons de mil vozes se alternavam ,e todas murmuravam sagrados mandamentos que se perdiam no ar...
Ela andou dois passos...
O revólver na mão
O cérebro em frangalhos...
o sangue manchando o tempo
Ela acordou sonolenta e decidiu.

A verdade

De um golpe matei todos os céus
e tuas lágrimas incontidas.
Metamorfoseei-me em sagradas partículas nos profundos abismos de regiões abissais, me decidi,e delicadamente me atirei de encontro ao teu corpo.
Enterrei-me, morto que estava,olhos perfurados,sem nenhum reflexo no espelho,no jardim encantado do teu olhar.
E ainda que eu diga estultícies ou maravilhosos poemas, meu eu permanece sentado em frente à nada, arrastando-se lenta e sorrateiramente por entre os arbustos pálidos de incompreensão.
Um estranho lamento de adeus e dois segundos de apatia me moveram. Nunca indaguei qual o sentido da alma corar quando os sonhos desmoranam? qual a urgência de ser e parametrizar cada sentimento?
De um golpe matei o silêncio e seus asseclas, e eles se ajoelharam perante o indubitável.

Luciano Pires

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