sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A Espera

Ela se sentou em frente ao armário.
Arma engatilhada,duas balas.
Os olhos pesados.
Ele não fugiria,não,não poderia.
Há dois minutos não se ouvia mais nenhum barulho lá dentro.
O celular toca.
Whatsapp.
Quando levanta os olhos do celular a porta está entreaberta.
Apenas a longa cauda se arrastando em um vulto por debaixo da cama.
Um tiro.
O grito foi ensurdecedor.
Abriu as asas,voou pela janela.
Elza guardou a arma,arfante.
Ligou a tv ,passava um filme de terror, bocejou.

O homenzinho

Fome.
2 da manhã.
Leila tocou no celular para iluminar o caminho até a geladeira.
Pé ante pé, silenciosamente.
Abriu lentamente o refrigerador.
Viu algo se mexer lá dentro.
Um homenzinho estava sentado no pote de margarina comendo
um pedaço de queijo.
Correu, assustado, se escondeu atrás dos iogurtes.
Leila esfregou os olhos,bocejou, pegou um pedaço de torta e fechou a geladeira.
_Tomara que não consiga abrir meus hot pockets,pensou.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Rabo de Rato


Jorge trabalha em um lixão,em Carapicuíba.
Ratos, baratas,garrafas pet,bonecas sem cabeça e cds do Cidade Negra,são alguns dos objetos que ele encontra invariavelmente durante a caçada.
Um dia ele encontrou um dedo.
Colocou-o em um chaveiro,andava para todos os lados
com aquele dedo pendurado em um molho de chaves que nada abriam.
Segunda-feira à noite estava embriagado,bebeu meia dúzia de Corotes de limão.
Ia saindo cambaleando ,desviando dos sacos de lixo derramando chorume,era noite.
Tropeçou em uma caixa de papelão,bateu a cabeça, sangrou.
Adormeceu em meio ao lixo.
Um rato mordeu o dedo-chaveiro,levou com chave e tudo.
Jorge hoje trabalha vendendo cachorro quente no largo de Osasco, as vezes vai ao Mineiro, beber seus Corotes de limão.
A garotada estranha aquele rabo de rato pendurado no chaveiro. Vingança.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Infância Gourmet

Ano de 2045.
Clube fechado nos Jardins,São Paulo.
Entrada do clube repleto de neon.
Roberto recebe as chaves do armário e adentra o salão iluminado, futurista.
Abre delicadamente a maleta que estava dentro do armário.
Bolinhas de gude de cristal importadas, piões de madeira nobre, escovados,ponta de titânio, tacos de fibra.
Os amigos do escritório tomam o café Kopi Luwak, enquanto esperam a sua vez.
Duas horas mais tarde entram em suas Ferraris e voltam para casa. na próxima semana repetem o ritual.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Destino

Débora levantou sonolenta, calçou os chinelos,lavou o rosto e foi tomar o café da manhã,não sem antes ler o horóscopo.
Todos os dias lia o horóscopo.
Touro: Preste atenção nos detalhes, hoje é um dia propício para encontrar seu príncipe encantado.
Ela sorriu.
Correu para o ponto de ônibus, tirou o celular da bolsa e leu rapidamente as mensagens do Facebook.
Olhou para o lado e viu um rapaz,sorriu.
Bonito,pensou. Será meu príncipe?
Deu um oi timidamente,ele também a cumprimentou.
_Qual é o seu signo? Ela perguntou.
_Não acredito muito nessas coisas,ele rebateu.
_Pois é, eu acredito bastante.
Laranjas Mecânicas,Pink Floyds,Sushis,Filosofias orientais.Trocaram telefone.
Namoraram, casaram, tiveram filhos, viajaram, xingaram o PT, discutiram, reataram,viveram.
Débora nunca irá saber que naquele dia leu o horóscopo errado.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Vale das Lágrimas















 Entrando devagar por entre as folhas
 Vejo um lago frio e criaturas aladas
 Pedras douradas,sinistros sinos soando
Teus olhos frios sobre a cachoeira
 Decido deitar e olhar para o céu

 Nem sempre fui assim
 E a viagem sem volta continua longa
 Minha mente percebe e assim fecho os olhos
 E tudo em volta parece dançar e ser eterno

 Nós dois poderíamos viver para sempre
 E tudo seria quase belo
 No entanto eu sei onde está meu coração
 E ele não está contigo

 As cores se desbotam por entre as pedras
 A água cristalina e a leveza de mil anos escorrendo por entre os dedos
Teu cabelo brilha como o Sol
 O Pôr-do Sol de todos os séculos

 Olho mais uma vez para trás
 Abro as asas de repente
 Do alto abandono o resto dos meus dias
 E na colina, o último grito ecoa por entre o vale das lágrimas.    

Pessoas que aportaram por aqui: