Sê o todo,tal qual o universo e seus meandros
E em cada fresta,um fio de luz,iluminando segredos
E em cada dúvida,a suave tranquilidade de navegar sublime por sobre as nuvens.
Sê assim,lago calmo,alma translúcida,abraço terno,beijo cálido,ilha segura e onírica.
Assim,em cada passo da longa caminhada, sê pássaro altivo, voando absoluto,imperioso,olhos atentos e asas abertas.
Em teu abraço, vivo
Em teus lábios dormem os meus
E em teu colo me construo
Me desfaço
Me reinvento
E, sendo ainda mais eu que antes,desfilo,impoluto,sem soçobros,coberto de brisa e indissoluto.
E ao te lembrar, no espelho,abraçados,indeléveis,suspiro abertamente,sem elocubrações,apenas a marca eterna de tudo que foi inferido e realizado.
E teu sorriso, desarmado e belo,inunda tudo de felicidade.
Como um límpido desaguar, rio caudaloso de infinitas embarcações,somos vento e vela e cais e porto e nave legítima descobrindo lugares inabitados.
Me dê a mão,sussurre ao meu ouvido,olhe para o horizonte,sinta toda a eternidade que flutua esparsa por entre as cores vívidas de nossas almas.
Enquanto isso,no alto da montanha,um senhor sorri e levanta as mãos e prescreve algumas notas,bate palmas e enlouquece
Aqui embaixo teu corpo está junto ao meu,sangue translúcido e quente correndo nas veias,a respiração,o bater ritmado do coração,a pele macia,o frêmito repentino de um trovão interno
que aturde tudo ao redor.
Te olho e te beijo,entregue e infinito.
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
quarta-feira, 18 de novembro de 2015
Jorge,o Gnomo
Ivan acordou sonolento,coçou os olhos com as mãos,bocejou lentamente, numa pantomina engraçada.
Mal pode acreditar quando avistou um pequeno homem sentado no sofá,devia ter uns dez centímetros,estava vendo Netflix,embasbacado e absorto.
_Ei, quem é você?
_Oi?
_Quem é você?
_ Jorge,o gnomo
Ele coçou os olhos novamente, não acreditando no que via.
_Como assim um gnomo?
_Sim, eu sou um gnomo e sou músico também.
_Vai me dizer que tem uma banda de gnomos?
_Sim,tocamos música imaginária.
(Ele pensou por um instante que conhecia alguns amigos músicos que tocavam música imaginária também)
O gnomo continuou:
_Tocamos muitas músicas imaginárias com nossas guitarras semi-distorcidas,aliás,hoje tem show, obrigado por me deixar assistir Narcos, esse Wagner Moura realmente é muito bom.
O gnomo pulou pela janela rapidamente, deixando um rastro azul de fumaça.
Ele acidentalmente derrubou um pacotinho pequeno, que Ivan cheirou,pegou na mão,observou e
enrolou junto com o cigarro de maconha que sempre fumava pela manhã.
Desde aquele dia Ivan se encontra regularmente com Jorge, sempre tocam violão e assistem Netflix, estão ansiosos pela segunda temporada de Narcos.
terça-feira, 17 de novembro de 2015
O Voo
Ele espiou através da fechadura e
quase imperceptivelmente foi picado com cores vivas por
serpentes ferozes.
Um cérebro ferino,uma dúzia de pensamentos mórbidos
e um sorriso desgastado e pueril.
_ Você crê mesmo que pode flutuar por sobre a cidade e voar com essas asas de brinquedo?
Ele apenas se calou e continuou a caminhar de olhos fechados,sussurrando baixinho.
Sentou na calçada,bebeu um gole de vinho,olhou para o céu e se deitou,adormeceu.
Sonhou com flores,perfumes,sonhou com praias desertas e florestas imensas,sonhou com uma morte pacífica e indolor.
Ele espiou através de sua alma e não enxergou nada,apenas um ruído branco se dissolvendo em metáforas.
Fazia frio,fazia noite,fazia Lua,fazia solidão.
Encharcado de silêncio,ele previu,assim que notou uma mancha no céu,que de fato seu sorriso
embarcara em uma viagem sem volta.
Tentou abafar os pensamentos que borbulhavam feito água fervente.
Tentou sufocar o crescente e embrutecedor ímpeto de saltar para o abismo.
Assim,quando a avistou,de repente sorriu.
Um lúcido sorriso emprestado.
Vestiu sua alma de coragem.
E rasgou o peito, deixando seu coração saltar arrítmico.
E então ela o tomou nas mãos
E trouxe junto de si.
E o caminhar sozinho não era então tão frígido.
E a solidão em si não era tão díspar.
A madrugada tremia,frágil,quando os dois olhos se fitaram.
E cada um reconheceu seu próprio demônio tatuado na pupila alheia.
E se deram as mãos
E cantaram uma canção que ecoava pelos becos.
E toda a cidade e seus vapores abriram a cortina imaginária.
E dois pássaros antes inertes levantaram vôo.
E uma garoa fina e gelada coroou o amanhecer de suas almas.
quarta-feira, 11 de novembro de 2015
Morte casual
Duas horas da tarde, um calor sisudo
Ele nem olha pra trás, cabelo suado,músculos retesados
e a um palmo de ser morto.
Agacha repentinamente e pega a nota de dois reais
que descansava por sobre o asfalto quente.
Quem sabe compraria uma dose de cachaça.
Que sorte.
_Porque o Senhor Jesus voltará e ai daquele que não estiver preparado.
_Senhor, o Vila Yara passa aqui?
_Amendoim doce e salgado. Água mineral, Skol.
Na fila ele cambaleava,o chinelo escapava do pé.
O cobrador olhou pela janela: Pode subir.
O tiro foi certeiro.
As pessoas se afastaram.
No pneu preto o sangue cinza.
_Confia em Jesus,ele é o caminho, a verdade e a vida.
A Bíblia caída no chão,aberta no Salmo 23.
O Sol ainda castigava tudo.
As pombas ainda comiam restos de cachorro-quente.
Outro trem em direção a Itapevi.
A sirene da polícia flutuava ao longe.
Na tv do boteco passava o Video Show.
Ele nem olha pra trás, cabelo suado,músculos retesados
e a um palmo de ser morto.
Agacha repentinamente e pega a nota de dois reais
que descansava por sobre o asfalto quente.
Quem sabe compraria uma dose de cachaça.
Que sorte.
_Porque o Senhor Jesus voltará e ai daquele que não estiver preparado.
_Senhor, o Vila Yara passa aqui?
_Amendoim doce e salgado. Água mineral, Skol.
Na fila ele cambaleava,o chinelo escapava do pé.
O cobrador olhou pela janela: Pode subir.
O tiro foi certeiro.
As pessoas se afastaram.
No pneu preto o sangue cinza.
_Confia em Jesus,ele é o caminho, a verdade e a vida.
A Bíblia caída no chão,aberta no Salmo 23.
O Sol ainda castigava tudo.
As pombas ainda comiam restos de cachorro-quente.
Outro trem em direção a Itapevi.
A sirene da polícia flutuava ao longe.
Na tv do boteco passava o Video Show.
quinta-feira, 5 de novembro de 2015
Zen
Uma poesia doce
Que fale aos sentidos
De um perfume suave e facilmente explicável.
Uma poesia que seja repouso
E em teu colo se deite,suave
Uma poesia que te diga
O que não preciso dizer
e ressoe infinitamente dentro de cada minúscula parte do teu ser.
Uma lufada de ar fresco
E aquela luz de fim de tarde,com sua música preferida ao fundo.
Um gole de vinho embriagando o sorriso.
E andar de mãos dadas em direção a qualquer lugar.
Uma poesia tranquila e serena.
Transbordando compreensão.
Como uma canção do Paul
Como uma cena de algum filme bobo da sessão da tarde
Como o cheiro do café de manhã
O rádio tocando um velho jazz
Uma poesia que cure
E desvie toda saudade
Derramando-se em plenitude
No vasto campo de nós.
Encontros
Ricardo era seu nome.
Era baixinho, esguio,quase imperceptível.
Gostava de beber Corote no gargalo. De limão.
Curtia bandas cover de Guns and Roses. E dava moshs.
Trabalhava de garçom em uma churrascaria. Era vegetariano nas horas vagas.
Quase sempre esquecia o nome das pessoas.
Quase sempre chegava atrasado no serviço.
Quase sempre dormia depois das 4 da manhã. Quando dormia.
Seu filme preferido era o Clube da Luta.
Chegou a ir nas matinês do Rhapsody. Era clubber.
Um dia ,na rua dele, passou Roberta.
Ela era alta,magra,dominava o ambiente. Era expansiva.
Gostava de vinhos caros e taças de cristal. Ou Champagne.
Curtia Portishead. Tamborilava as batidas no isqueiro Zippo.
Trabalhava de editora de moda em uma grife famosa. Modelava às vezes.
Lembrava até o nome do primeiro poodle que teve aos 4 anos de idade.
Nunca dormia. Comia duas folhas de alface no almoço.
Seu filme preferido era Gilda.
Gostava de frequentar a Vila Olímpia. Dançava a noite toda movida a Ecstasy e Gatorade de Tangerina.
Nunca se encontraram.
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