Quantas vezes pensei em voltar aquele lugar,tocar cada objeto e lembrar de todos os segundos que estive em sua companhia,rever as desgraças uma a uma,satisfeito por ter resolvido me enganar até agora e me despedir lentamente da minha última solidão.Quantas vezes me despedi sorrindo e acenando pra ninguém,tropeçando em detalhes,caindo de cara em desatinos,e você, lentamente absorta em devaneios,com as costas marcadas pelo sopro do destino.Olhei em volta e vi tua sombra,deitada sobre o asfalto quente,me desesperando.
Quantas vezes menti friamente pra mim mesmo e acreditei,sonhos são reflexos indubitáveis de desesperanças e vontades perdidas no tempo e eu me entrego a eles como se não houvesse outra saída.
Em frente ao espelho da sala eu olho o relógio,as horas passam calmamente,e em outro segundo estático eu vejo tua imagem, e prefiro cerrar os olhos,encarando o escuro da minha mente, fixamente.Teu lado mais suave, mais frágil,desmoronou por sobre tudo e confirmou a morte presumida de mil deuses.Nada é belo agora, nada é são, nada é milagroso, é tudo uma pilha enorme de lembranças, escorrendo pelo chão e manchando os raios transparentes do Sol.
Quantas vezes me perdi, sorrateiramente, pra me encontrar, antes de mim, pelo terreno deserto do amor, e me iludi, me desesperei, me encontrei e não era eu.
Quantas vezes a paz, companheira sutil, me enlouqueceu e me fez jogar tudo para o alto, num enorme desperdício de alma, e eu batia de frente com Deus, e ignorava o que estava escrito e determinado e ainda assim a beleza de ser traído pela divindade omissa e culpada tinge de negro cada partícula do meu ser, me tornando parte de todo de algo que me é misterioso.
Solte as amarras, traga os vícios, encontre as virtudes, beba o vinho do desespero lentamente, molhe o rosto, abra os olhos, erga a cabeça e fite o infinito, ele está ali, logo a frente, iluminado e arranjado meticulosamente pelas mãos hábeis de um anjo sem asas, e seus dedos atrofiados se estendem para cumprimentar sofregamente e me desejar uma boa sorte, em outra vida, em outra existência, em outra solidão resguardada, em outro mundo,como um ponto final disfarçado de vírgula, esperando um acorde súbito para acabar a música em uma pausa tranquila de um sono falso.
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