segunda-feira, 9 de junho de 2008
Devaneios
Esse meu sentimento-alvo,perdido
numa rua suja e escura no centro do meu coração
prevejo uma viagem quase perdida e sem volta
(e aquela música suave no mp3)
A voz rouca de uma senhora idosa contando ao filho os desígnios de Deus
e em meu pensamento eu praguejava e desrespeitava os desígnios de quem quer que seja.
Cerveja,sexo,algumas canções de artistas falidos e poesias deprimentes de poetas mortos.
Uma fumaça fedida de cigarro,um beijo que nem foi cogitado
e de novo eu choro nem sei por quem e para que.
O universo,um minúsculo universo,explodindo retoricamente por entre meu sangue.
Onde está aquele sorriso?
Cavernas de aço
olhos,lábios,esquinas
e o ruído de mil melodias descompassadas
sacrificando e crucificando ordinariamente aquele Cristo estampado na parede.
Bebo um café e grito o mais alto possível
Cabelos,sangue, unhas,uma ferida enorme e aberta no fundo do espírito
(e a dor mal disfarçada entornando reflexos escaldantes por sobre a fria camada de ódio que repeliu e repele toda e qualquer felicidade)
Eloquência inoperante
Maldisse tantas vezes essa virtude
e quem dera me abandonasse sem avisar
num súbito homicídio sem armas, sem sangue, sem medo
Chamei você pelo nome
e quando você me viu se calou e desviou o olhar e atravessou a rua e bateu suas asas para uma dimensão que nem ouso percorrer
Mas te encontro em qualquer esquina,em qualquer sofá, no sonho que não terminei,e na promessa vazia que fiz e que se transformou em destino
e mais uma vez o Sol derramou seus raios na sua janela fechada
e você dormiu,quase cega, na grama alta dos seus devaneios.
Recado
Obviamente não se trata de um recado
Escrito em tom menor ou perdido em uma escuridão proposital
Descartado e apagado entre os cadeados enferrujados da memória
Nem se trata de um sussurro engasgado, previsto e invisível.
Uma palavra não se passa de mão em mão
nem se vira o rosto dissimuladamente para entregar ao ladrão
nem se sequestra versos ou poesias.
E mesmo vendo seu rosto estampado na tela
com o coração palpitando
e um sorriso sincero no olhar
não se trata de uma alma
desmanchada em gestos eternos
manchada e manipulada por deduções absolutas
e um vento quase morno permeia meu peito
desfaz as sequelas, revira os sentimentos, um a um
e nada sobrevive, de pé
obviamente não se trata de um recado
apenas duas linhas de medo transmutado em palavras
assinando em desalinho
um eterno prometer.
Escrito em tom menor ou perdido em uma escuridão proposital
Descartado e apagado entre os cadeados enferrujados da memória
Nem se trata de um sussurro engasgado, previsto e invisível.
Uma palavra não se passa de mão em mão
nem se vira o rosto dissimuladamente para entregar ao ladrão
nem se sequestra versos ou poesias.
E mesmo vendo seu rosto estampado na tela
com o coração palpitando
e um sorriso sincero no olhar
não se trata de uma alma
desmanchada em gestos eternos
manchada e manipulada por deduções absolutas
e um vento quase morno permeia meu peito
desfaz as sequelas, revira os sentimentos, um a um
e nada sobrevive, de pé
obviamente não se trata de um recado
apenas duas linhas de medo transmutado em palavras
assinando em desalinho
um eterno prometer.
Sono Falso
Quantas vezes pensei em voltar aquele lugar,tocar cada objeto e lembrar de todos os segundos que estive em sua companhia,rever as desgraças uma a uma,satisfeito por ter resolvido me enganar até agora e me despedir lentamente da minha última solidão.Quantas vezes me despedi sorrindo e acenando pra ninguém,tropeçando em detalhes,caindo de cara em desatinos,e você, lentamente absorta em devaneios,com as costas marcadas pelo sopro do destino.Olhei em volta e vi tua sombra,deitada sobre o asfalto quente,me desesperando.
Quantas vezes menti friamente pra mim mesmo e acreditei,sonhos são reflexos indubitáveis de desesperanças e vontades perdidas no tempo e eu me entrego a eles como se não houvesse outra saída.
Em frente ao espelho da sala eu olho o relógio,as horas passam calmamente,e em outro segundo estático eu vejo tua imagem, e prefiro cerrar os olhos,encarando o escuro da minha mente, fixamente.Teu lado mais suave, mais frágil,desmoronou por sobre tudo e confirmou a morte presumida de mil deuses.Nada é belo agora, nada é são, nada é milagroso, é tudo uma pilha enorme de lembranças, escorrendo pelo chão e manchando os raios transparentes do Sol.
Quantas vezes me perdi, sorrateiramente, pra me encontrar, antes de mim, pelo terreno deserto do amor, e me iludi, me desesperei, me encontrei e não era eu.
Quantas vezes a paz, companheira sutil, me enlouqueceu e me fez jogar tudo para o alto, num enorme desperdício de alma, e eu batia de frente com Deus, e ignorava o que estava escrito e determinado e ainda assim a beleza de ser traído pela divindade omissa e culpada tinge de negro cada partícula do meu ser, me tornando parte de todo de algo que me é misterioso.
Solte as amarras, traga os vícios, encontre as virtudes, beba o vinho do desespero lentamente, molhe o rosto, abra os olhos, erga a cabeça e fite o infinito, ele está ali, logo a frente, iluminado e arranjado meticulosamente pelas mãos hábeis de um anjo sem asas, e seus dedos atrofiados se estendem para cumprimentar sofregamente e me desejar uma boa sorte, em outra vida, em outra existência, em outra solidão resguardada, em outro mundo,como um ponto final disfarçado de vírgula, esperando um acorde súbito para acabar a música em uma pausa tranquila de um sono falso.
Quantas vezes menti friamente pra mim mesmo e acreditei,sonhos são reflexos indubitáveis de desesperanças e vontades perdidas no tempo e eu me entrego a eles como se não houvesse outra saída.
Em frente ao espelho da sala eu olho o relógio,as horas passam calmamente,e em outro segundo estático eu vejo tua imagem, e prefiro cerrar os olhos,encarando o escuro da minha mente, fixamente.Teu lado mais suave, mais frágil,desmoronou por sobre tudo e confirmou a morte presumida de mil deuses.Nada é belo agora, nada é são, nada é milagroso, é tudo uma pilha enorme de lembranças, escorrendo pelo chão e manchando os raios transparentes do Sol.
Quantas vezes me perdi, sorrateiramente, pra me encontrar, antes de mim, pelo terreno deserto do amor, e me iludi, me desesperei, me encontrei e não era eu.
Quantas vezes a paz, companheira sutil, me enlouqueceu e me fez jogar tudo para o alto, num enorme desperdício de alma, e eu batia de frente com Deus, e ignorava o que estava escrito e determinado e ainda assim a beleza de ser traído pela divindade omissa e culpada tinge de negro cada partícula do meu ser, me tornando parte de todo de algo que me é misterioso.
Solte as amarras, traga os vícios, encontre as virtudes, beba o vinho do desespero lentamente, molhe o rosto, abra os olhos, erga a cabeça e fite o infinito, ele está ali, logo a frente, iluminado e arranjado meticulosamente pelas mãos hábeis de um anjo sem asas, e seus dedos atrofiados se estendem para cumprimentar sofregamente e me desejar uma boa sorte, em outra vida, em outra existência, em outra solidão resguardada, em outro mundo,como um ponto final disfarçado de vírgula, esperando um acorde súbito para acabar a música em uma pausa tranquila de um sono falso.
Desabafo
Não existe satisfação total na vida.
Andei pensando sobre o que me faz feliz, ou satisfeito, ou temporariamente tranquilo ao ponto de não desejar sumir.
E tudo parece um semi-orgasmo mítico, que nunca irá se concretizar,sempre inventando placebos, paradoxalmente conscientes.
Resgatando amores antigos, e beijos esquecidos no tempo e situações que bem poderiam estar em outra dimensão, a dimensão distante das lembranças engavetadas.
E tudo sempre poderia ser melhor, aquele discurso elaborado e ensaiado somente dentro da própria cabeça, que espera um momento exato para se libertar, e esse momento nunca chega.
Nada nunca é o que se quer, nunca é o que se espera, nunca se explora o máximo, como uma explosão em contagem regressiva em que o botão vermelho emperra.
E aquele sorriso amarelo das sombras das pessoas,um óculos escuro colocado em frente à vida, pra descansar os olhos e esconder as olheiras profundas.
As conversas e as pessoas,os livros e as músicas,filmes e viagens de fim de semana,as lágrimas derramadas no escuro do quarto,o travesseiro úmido e a alma seca.
Não existe calma,e a motivação infecta de um delírio casual se sobrepõe,ininterruptamente,às satisfações,ou alegrias, mesmo que extremamente sóbrias , conscientes e superficiais.
Não há exceção, não há regra.
E ontem eu esperei o telefone tocar, e ele permaneceu imóvel, como meus olhos, como minhas pernas, e como tudo em volta, espreitando cada ângulo do meu corpo.
Eu lembro de tudo que vivi, tudo que esperei, tudo que quis, tudo que prometi, tudo que ansiei, e tudo parece que foi escrito à lápis em um guardanapo,um recado, um gracejo pra Deus, que o garçom não entregou.
Deus e sua imaginação, Deus e seus discípulos incrédulos.
E ontem ainda lembrei novamente de todas as pessoas, e lembrei de você,e do tempo que desperdicei,e das vozes que ouvi, e tudo que representou,por tanto tempo.
O livro que não escrevi, o talento que acreditei ter,o que represento para cada um que passou por mim, e as palavras que entreguei,para todos eles,meio desconfiado.
E a música que toquei e alguém ouviu, distraidamente,esbarrando nos muros frios e sólidos, e reverberando,ácidas,para se desfazer em ruídos minúsculos dentro de cada
um, dentro de mim, do universo, da calçada suja de uma cidade qualquer.
E eu me vejo só, e olho para o lado e não existe ninguém, não existe humanidade, é apenas um termo, e todos estamos sós e entregues ao mundo e seus significados.
E cada vez mais acredito que pensar é inútil,e nunca nada vai fazer sentido.
Sempre que alguém lê algo assim pensa: é um suicida.
Mas é com uma tranquilidade absurda que entro, pisando suavemente,e assoviando, nesse amplo galpão (e só me alegro e satisfaço totalmente quando constato isso),que é onde não se pensa, não se acha sentido, não se infere nada, não se adivinha,não se lê,não se cria expectativas,não se tenta dar significado a nada, e é aí que tudo, paradoxalmente faz sentido, e nesse caos, nessa ausência total de sentido que se descobre um medo brutal,de se ver perdido e nu,e que é exatamente o que somos.
Não sabemos de onde viemos, pra onde vamos, e o que somos e queremos ser felizes em totalidade?
Repito: não existe satisfação total
E eu sigo sóbrio, errante ,com a consciência tranquila e despreocupado,porque não existem desejos,nem problemas, nem mágoas.
Andei pensando sobre isso, e sobre aquele beijo que podia ter te dado naquele dia, e sobre o que se passa em sua cabeça.
Andei pensando que não dirijo,não gosto de ir no banco, não gosto de igrejas, nem de quem mente a si mesmo.
E quando te abraço,e quando passo a mão em teu rosto,e quando faço alguém rir, e quando desfaço um nó que estava encrustrado na alma pálida de alguém,aí sim me sinto vivo, nesse momento me sinto mais perto da imaginação de Deus.
Ontem ouvi novamente aquela música que me faz chorar, e li um trecho de um livro do Hesse e andei sozinho pelas ruas, sem pensar em nada,apenas andando para que o cansaço físico me satisfizesse quando eu deitasse e encostasse a cabeça no travesseiro, e lembrasse de novo do que eu perdi,daquela paixão que foi embora, daquele amigo que era o mais amigo de todos e sabia de tudo que acontecia, e que agora se perdeu.
A garoa e o frio invadem profundamente minha alma, e eu lembro de quem eu não amei, de quem quis apenas uma palavra minha e eu não dei, de quem queria apenas minha atenção e eu recusei, do abraço que não dei quando os braços esperavam, abertos, de quando não disse para quem eu gosto, que essa pessoa é importante pra mim, e nas brigas idiotas por coisas pequenas, e do orgulho, do não-perdoar, do egoísmo frio, do medo de sentir, do medo de demonstrar, do medo absolutamente desnecessário de se importar, de ir além, de ser.
E eu lembrei por um instante que apesar de nada fazer sentido,há um sentido maior, que nos é incompreensível, e que pode ser Deus, mesmo que ele não exista.
Ou nós somos a imaginação de Deus ou ele é a nossa, e embora nada faça sentido, há uma vida pra viver, e mesmo sem satisfação plena,eu me movo em direção a algo
que pode ser o fim ou o começo.
Luciano Pires
Andei pensando sobre o que me faz feliz, ou satisfeito, ou temporariamente tranquilo ao ponto de não desejar sumir.
E tudo parece um semi-orgasmo mítico, que nunca irá se concretizar,sempre inventando placebos, paradoxalmente conscientes.
Resgatando amores antigos, e beijos esquecidos no tempo e situações que bem poderiam estar em outra dimensão, a dimensão distante das lembranças engavetadas.
E tudo sempre poderia ser melhor, aquele discurso elaborado e ensaiado somente dentro da própria cabeça, que espera um momento exato para se libertar, e esse momento nunca chega.
Nada nunca é o que se quer, nunca é o que se espera, nunca se explora o máximo, como uma explosão em contagem regressiva em que o botão vermelho emperra.
E aquele sorriso amarelo das sombras das pessoas,um óculos escuro colocado em frente à vida, pra descansar os olhos e esconder as olheiras profundas.
As conversas e as pessoas,os livros e as músicas,filmes e viagens de fim de semana,as lágrimas derramadas no escuro do quarto,o travesseiro úmido e a alma seca.
Não existe calma,e a motivação infecta de um delírio casual se sobrepõe,ininterruptamente,às satisfações,ou alegrias, mesmo que extremamente sóbrias , conscientes e superficiais.
Não há exceção, não há regra.
E ontem eu esperei o telefone tocar, e ele permaneceu imóvel, como meus olhos, como minhas pernas, e como tudo em volta, espreitando cada ângulo do meu corpo.
Eu lembro de tudo que vivi, tudo que esperei, tudo que quis, tudo que prometi, tudo que ansiei, e tudo parece que foi escrito à lápis em um guardanapo,um recado, um gracejo pra Deus, que o garçom não entregou.
Deus e sua imaginação, Deus e seus discípulos incrédulos.
E ontem ainda lembrei novamente de todas as pessoas, e lembrei de você,e do tempo que desperdicei,e das vozes que ouvi, e tudo que representou,por tanto tempo.
O livro que não escrevi, o talento que acreditei ter,o que represento para cada um que passou por mim, e as palavras que entreguei,para todos eles,meio desconfiado.
E a música que toquei e alguém ouviu, distraidamente,esbarrando nos muros frios e sólidos, e reverberando,ácidas,para se desfazer em ruídos minúsculos dentro de cada
um, dentro de mim, do universo, da calçada suja de uma cidade qualquer.
E eu me vejo só, e olho para o lado e não existe ninguém, não existe humanidade, é apenas um termo, e todos estamos sós e entregues ao mundo e seus significados.
E cada vez mais acredito que pensar é inútil,e nunca nada vai fazer sentido.
Sempre que alguém lê algo assim pensa: é um suicida.
Mas é com uma tranquilidade absurda que entro, pisando suavemente,e assoviando, nesse amplo galpão (e só me alegro e satisfaço totalmente quando constato isso),que é onde não se pensa, não se acha sentido, não se infere nada, não se adivinha,não se lê,não se cria expectativas,não se tenta dar significado a nada, e é aí que tudo, paradoxalmente faz sentido, e nesse caos, nessa ausência total de sentido que se descobre um medo brutal,de se ver perdido e nu,e que é exatamente o que somos.
Não sabemos de onde viemos, pra onde vamos, e o que somos e queremos ser felizes em totalidade?
Repito: não existe satisfação total
E eu sigo sóbrio, errante ,com a consciência tranquila e despreocupado,porque não existem desejos,nem problemas, nem mágoas.
Andei pensando sobre isso, e sobre aquele beijo que podia ter te dado naquele dia, e sobre o que se passa em sua cabeça.
Andei pensando que não dirijo,não gosto de ir no banco, não gosto de igrejas, nem de quem mente a si mesmo.
E quando te abraço,e quando passo a mão em teu rosto,e quando faço alguém rir, e quando desfaço um nó que estava encrustrado na alma pálida de alguém,aí sim me sinto vivo, nesse momento me sinto mais perto da imaginação de Deus.
Ontem ouvi novamente aquela música que me faz chorar, e li um trecho de um livro do Hesse e andei sozinho pelas ruas, sem pensar em nada,apenas andando para que o cansaço físico me satisfizesse quando eu deitasse e encostasse a cabeça no travesseiro, e lembrasse de novo do que eu perdi,daquela paixão que foi embora, daquele amigo que era o mais amigo de todos e sabia de tudo que acontecia, e que agora se perdeu.
A garoa e o frio invadem profundamente minha alma, e eu lembro de quem eu não amei, de quem quis apenas uma palavra minha e eu não dei, de quem queria apenas minha atenção e eu recusei, do abraço que não dei quando os braços esperavam, abertos, de quando não disse para quem eu gosto, que essa pessoa é importante pra mim, e nas brigas idiotas por coisas pequenas, e do orgulho, do não-perdoar, do egoísmo frio, do medo de sentir, do medo de demonstrar, do medo absolutamente desnecessário de se importar, de ir além, de ser.
E eu lembrei por um instante que apesar de nada fazer sentido,há um sentido maior, que nos é incompreensível, e que pode ser Deus, mesmo que ele não exista.
Ou nós somos a imaginação de Deus ou ele é a nossa, e embora nada faça sentido, há uma vida pra viver, e mesmo sem satisfação plena,eu me movo em direção a algo
que pode ser o fim ou o começo.
Luciano Pires
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